sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Estamos com fome de amor!

Novamente um texto de Arnaldo Jabor. Eu sou muito fã dele.
Boa leitura


Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: "Digam o que disserem, o mal do século é a solidão" (já citei essa frase em uma crônica antiga, mas ela sempre volta)!

Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias. Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas e saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.
Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dance", incrível.

E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida? Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances sexuais dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormirem abraçados, sabe essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção.

Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós. Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos ORKUT, o número que comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!" "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra ser sozinho!" Unindo milhares ou melhor milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis. Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa.

Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega. Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, "pague mico", saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso à dois. Quem disse que ser adulto é ser ranzinza, um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém:

Vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida.

Antes idiota que infeliz!


Arnaldo Jabor

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

"Tenho o gene do palhaço"

Entrevista: Max Gehringer, escritor e especialista em mercado de trabalho


Aos 57 anos, permanentemente risonho, o ex-executivo Max Gehringer pode acender um charuto às 10h30min, conversar e tirar dezenas de fotos com fãs. Comentarista de rádio, palestrante, colunista de revistas e escritor há oito anos, o especialista em carreiras e mercado de trabalho ganhou notoriedade neste ano ao estrear um quadro no programa Fantástico, da Rede Globo, falando com muito bom humor sobre como se dar bem no ambiente empresarial. No final da década de 1990, Gehringer era um dos executivos mais requisitados do Brasil. Trabalhou na diretoria de empresas como Pepsi e Elma Chips, mas decidiu abandonar o ambiente corporativo e virar escritor. A guinada deu certo e Gehringer acabou se tornando um dos palestrantes mais requisitados do país. Apesar da aparente calmaria dos charutos e das conversas descompromissadas com ouvintes e leitores, o comentarista ainda trabalha em jornada dupla respondendo as centenas de e-mails de trabalhadores em busca de orientação profissional. As angústias dos profissionais é a matéria-prima dos comentários nas revistas, rádio e TV, contou Gehringer a Agência RBS na última quinta-feira, após uma palestra na 26ª Expoagas, em Porto Alegre. Entre baforadas e piadas, Gehringer fala sobre as lições aprendidas na própria carreira de executivo e como se planejou para abandonar os escritórios e subir no palco. Confira os principais trechos:

Diário Catarinense - Como surgiu a sua visão bem-humorada sobre o mundo dos negócios?
Max Gehringer - O bom-humor é natural para mim, desde que eu me conheço por gente. Desde os tempos de escola me vestia de palhaço toda vez que tinha um show. Tenho o gene do palhaço. A dificuldade foi equilibrar o lado palhaço com o lado executivo. Tem momentos em que você têm de ser executivo e não pode ser palhaço. E tem momentos em que ser palhaço descontrai o ambiente. Sofri muito no início da carreira por fazer piada na hora errada. Não dá para ser piadista o tempo todo, tem de escolher a hora em que aquilo vai funcionar.

DC - Os homens de negócio se levam muito a sério? O seu bom humor era exceção entre os executivos?

Gehringer - Eu não era exceção, mas você tem razão. Tem muita gente que assume uma postura séria demais. Por isso, as empresas criaram o happy hour. É uma maneira de dizer para a pessoa: "Olha, na sexta-feira de noite vocês podem se comportar como vocês são realmente. Porque, durante a semana, nós estamos exigindo que vocês venham vestidos de uma determinada maneira, que talvez não seja a maneira que vocês gostariam de se vestir. Estamos pedindo que você utilize um tipo de linguajar que não é a linguagem que vocês utilizam normalmente". Ou seja, você passa cinco dias da semana sendo teleguiado pela empresa. O que eu fiz foi um happy hour de semana inteira. Mas eu conheci bastante gente como eu.

DC - O bom humor foi herdado da família?

Gehringer - Pelo contrário, meu pai e minha mãe eram incapazes de contar uma piada. Meu pai era suíço, e não tem nada pior que suíço contando piada. Ele contava uma piada, e ninguém ria. Daí ele começava a explicar a piada, e o pessoal ria da explicação. Ele ficava bravo. Minha mãe também sempre foi uma pessoa muito séria. Talvez seja por isso. Quando você é criado numa casa com esse tipo de clima, ou você é igualzinho ou é o contrário. Eu saí ao contrário.

DC - De qual emprego o senhor tirou as maiores e melhores lições que o apresenta nas palestras, nos livros e na TV?

Gehringer - As memórias mais vívidas que temos são sempre as lembranças que guardamos da infância. Quando a gente é criança, temos a cabeça vazia, então, qualquer coisa que você vê pela primeira vez assume um significado enorme. A mesma coisa acontece no primeiro emprego. Como eu comecei a trabalhar novo, com 15 anos de idade, cada dia era uma lição de vida, de hierarquia, de disciplina, de resultados. Trabalhava na produção, e resolveram distinguir os líderes do resto pela cor da gola do uniforme - e eu era resto (risos). Evidentemente, quem ganhou jalecos de cores mais elevadas começou a andar com o queixo empinado. E eu escrevi a seguinte frase no quadro de avisos: "se a cor da gola fosse sinal de prestígio, o palhaço seria o dono do circo" (risos). E tomei três dias de suspensão. Eu reagi como eu sempre reajo - com bom humor - , e a empresa reagiu como tinha de reagir. Ela tinha de dar uma punição para evitar a anarquia. Esse tipo de lição ficou marcada em mim para o resto da vida, e isso me ajudou a achar o equilíbrio. Outra coisa que me ajudou muito foi servir no Exército. Lá, eu aprendi disciplina. O chefe é o chefe, não importa o que eu ache do chefe, se ele é medíocre ou incompetente. Não cabe ao subordinado avaliar o chefe. Aprendi a nunca criticar um chefe, e acho que foi isso que fez a minha carreira funcionar.

DC - O senhor tinha uma carreira bem sucedida como executivo. Por que decidiu ser palestrante e escritor?

Gehringer - Sempre tive consciência de que a vida corporativa é finita. Perto dos 40, comecei a pensar no que eu podia fazer, porque eu não me via dentro de uma empresa aos 60 anos. Então, durante 10 ou 15 anos eu me dediquei a escrever. Mas era para mim mesmo. Escrevia artigos curtos sobre a graça da vida corporativa - o que eu faço hoje. Escrevia, lia, jogava fora. Fazia o mesmo artigo 10 vezes. Quando comecei a nova carreira, eu estava pronto.

DC - Quais das lições que o senhor dá na TV o senhor não conseguiu cumprir?

Gehringer - Sempre digo que as pessoas têm de saber chegar até as outras pessoas em eventos, trocar cartões, essas coisas, para criar um círculo de relacionamento. E, até hoje, não sei fazer isso. Se eu puder, fico num canto quieto. É um defeito que eu tive a vida inteira e continuo tendo. Eu devia ter dedicado muito mais tempo da minha vida a conhecer e encontrar pessoas para criar um círculo.

DC - Na palestra, o senhor disse que recebe 200 e-mails por dia de pessoas pedindo dicas. O senhor responde a todos?

Gehringer - São de trabalhadores de todos os níveis, e eu respondo todos. Hoje, o que eu mais faço é responder e-mails. São entre 40 e 50 horas por semana respondendo. É a única coisa que eu faço, e não ganho dinheiro. Mas, através desses e-mails, tenho o pulso do mercado. Sei quais são os temas que as pessoas querem saber informações e do que o pessoal reclamas. É aí que eu capto informações para textos e comentários.

DC - E qual é a principal angústia do trabalhador?

Gehringer - Reconhecimento. Oitenta por cento dos e-mails tem a ver com reconhecimento. Não é salário. É muito raro alguém escrever sobre salário.